Soltou-se-me finalmente a verborreia que tenho guardado cá dentro durante estes dias alucinantes em tons de cinza!
Passa-se o tempo e os dias parecem todos iguais, povoados por palavrões, faltas de educação, muita estrada e chuva e frio e .... tanta coisa!
Nunca pensei vir a ficar tão desiludida com esta profissão, a que eu escolhi e que aprendi a amar. É de tal maneira grave a situação que julgo não haver retorno! Os miúdos que nos chegam às mãos são os que a escola dita "normal" não quer. São problemáticos é certo, mas o pior de tudo é a educação que trazem de casa, ou por outra, que não trazem de casa. É arrepiante pensar que estou lentamente a ser sugada por este sistema. Dei por mim a não me importar com os palavrões, com os gritos, com as constantes faltas de atenção, com a desmotivação e o desinteresse. Eu não sou mãe de ninguém, tenho um papel enquanto educadora a cumprir, mas não é nem pode ser o principal, nunca o será! Dou por mim a pensar que quando um dia tiver uma turma "normal", vai parecer-me o paraíso. A falta de sol faz-me desanimar, não compreendo como é possível não sentir nada. Neste momento sinto-me um robot, programado para fazer as suas tarefas e mais nada. Tudo me parece saido de um filme de terror, cinzento, com papéis em todo o lado...
Amanhã chega ao fim uma etapa importante, porque com eles cresci e evolui em conjunto. Dá gosto ver como chegaram e como vão embora, tão crescidinhos e senhores de si. Estou nostalgica, tenho pena de os deixar ir. Tudo se move em circulo e os passarinhos mais cedo ou mais tarde também acabam por deixar o ninho. E é isto que me dá forças para me levantar a cada dia, a certeza de que não é em vão e de que com o passar do tempo os palavrões e os maus modos acabam por ser derrotados e nós levamos a melhor. Essa satisfação de saber que se pode fazer uma diferença ainda que muito pequena, na formação do carácter de outro ser humano, é aquilo que me faz amar ser professora!